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segunda-feira, 14 de novembro de 2011

O CÂNCER ARRASA E MATA


Por: Joãozinho Ribeiro
Após a confirmação e divulgação oficial de um câncer na laringe do ex-presidente Lula, uma avalanche de comentários preconceituosos, para dizer o mínimo, passou a circular na internet e nas colunas de opinião dos leitores de diversos órgãos da imprensa brasileira. A maior parte tripudiando do tratamento no Hospital Sírio-Libanês em detrimento do SUS; outros, que não merecem sequer ser citados pela carga de ódio destilado em suas palavras, num claro demonstrativo de racismo explícito, aproveitando do anonimato para vociferar recalques, em perfeita sintonia com seus ideais nazifascistas.
O câncer é uma questão de saúde pública muito séria para ser tratada com tanta banalidade e baixeza por pessoas que talvez nem mereçam esta classificação destinada à espécie humana. Para quem já o enfrentou diretamente ou passou por enfrentamentos na família, sabe muito bem do que estou falando. Tripudiar de alguém acometido por essa 'moléstia grave', assim considerada nos manuais de imposto de renda, é externar uma das maiores manifestações de escárnio pela dignidade humana.
O câncer não escolhe sexo, idade, religião, classe social, raça ou qualquer outro atributo utilizado para diferenciar os seres humanos. Em família, ou fora dela, foram muitos os casos de pessoas separadas do nosso breve convívio terreno nos últimos anos; e atualmente permanece um considerável número de cidadãos engendrando diferentes formas de resistência e combate ao mal, por este mundo afora.
Pessoas caras e estimadas como a minha própria mãe, Amália; amigos queridos como Jackson Lago, Josilda Bogéa, Maurício Gamba, Zé Gomes, e, recentemente, a mãe do companheiro Márcio Jerry, são exemplos próximos, que muita dor e sofrimento causaram para os seus entes queridos que ficaram por aqui. Em outro plano, celebridades como Dilma Rousseff, Fidel, Steve Jobs, Hugo Chavéz, Itamar Franco, José Alencar, etc. também não foram poupados da mira da doença, apesar de todo avanço da medicina e da tecnologia de ponta à disposição em diferentes países.
Tinha apenas nove anos de idade quando tive de enfrentá-lo, pessoalmente, sob a forma de um sarcoma de mandíbula; e até hoje, para mim, é como uma peleja inacabada, apesar de haver superado os cinco anos de sobrevida que a medicina me concedeu à época e ter chegado aos 56 em 2011.
Uma perfeita tradução, também inacabada, desta dolorosa contenda encontra-se nas páginas do meu livro 'Paisagem Feita de Tempo', publicado no ano de 2006, que compartilho brevemente com os leitores desta coluna:
'O lado esquerdo da face Serviu de campo/progresso Pra revolução de um tumor Que se instalou, posseiro, Independente de mim Mudo, Marcante E Maligno Por que os tumores acontecem Como hóspedes inesperados, E alojam-se Em qualquer parte (do corpo) Sem pedirem licença Assim como um filho indesejado Feito de estupro Nos becos, Nos postes No deserto das noites E crescem Sob a impotência dos médicos, Fracassos de curandeiros Até se misturarem Ao colorido dos peixinhos No aquário da casa De uma madrinha Celeste Numa tarde de setembro de 65'.
Joãozinho Ribeiro escreve para o Jornal Pequeno às segundas-feiras.

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