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segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Sarney descendo

Monica Bergamo informa em sua coluna de hoje que José Sarney decidiu fechar a Fundação que leva seu nome, instalada em São Luís do Maranhão.
O motivo alegado é o seguinte: em função dos escândalos recentes, empresários e admiradores do senador desistiram de contribuir para manter a fundação. Sarney diz que os custos da fundação chegam a R$ 70 000 mensais. “Não temos mais dinheiro,” diz o senador.
Eu acho que a simples decisão de fechar as portas da fundação Sarney pode representar um avanço cultural para o país.
Também pode ser interpretada como uma confissão. Nem Sarney acha que vale à pena preservar sua memória.
Mas admito que não conheço o valor dos documentos históricos ali reunidos. Pode ser que existam registros importantes. Mas não é isso o que importa, agora.
A decisão confirma tudo aquilo que se conhece sobre José Sarney.
Durante anos a fio ele construiu e manteve sua fundação com dinheiro público, seja na forma direta, seja na forma de convênios e subsídios. Na prática, Sarney queria que o contribuinte pagasse por cada centavo da Fundação, até pelo mausoléu aonde pretende ser enterrado.
Quando os patrocinadores desaparecem, afugentados pela sequencia de escândalos produzida à sua volta, Sarney coloca-se na posição de vítima e diz que vai desistir da fundação.
Seria uma medida prudente, caso a Fundação fosse um time de futebol de várzea onde os cartolas brigaram com a padaria do bairro e agora não tem como comprar um novo jogo de camisas. Ou se a Fundação fosse uma entidade de idéias políticas tão radicais e inconvenientes que seus dirigentes fossem obrigados a cortar gastos e custos em tempos de crise. Não é nada disso.
Os negócios da familia vão bem. A filha Roseana retornou ao governo do Maranhão depois de vencer o governador eleito na Justiça Eleitoral. O filho continua influente no comando das empresas da família, a ponto de conseguir censurar o jornal Estado de São Paulo. Em resumo: se faltam patrocinadores para a fundação, não há notícia de que os Sarney tenham empobrecido nos últimos anos. Também não ficaram menos influentes.
No mundo inteiro, famílias que acumularam grandes fortunas costumam criar uma fundação para gerir seus negócios — e ela cuida de alimentar atividades culturais ligadas a vida e a obra de seu patrono e inspirador. Pede contribuições externas, mas não deixa de colocar a mão no bolso para garantir o caixa. Mesmo no Brasil, existem entidades assim, ainda que sejam raras.
Com a decisão de Sarney, a fundação que leva seu nome irá se transformar numa continuação da carreira política do Senador, que sempre perguntou o que o país e o pobre povo do Maranhão poderiam fazer por ele — e nada fez em retribuição.
A medida, no fundo, é coerente com a trajetória de um político que usou dinheiro público até para dar emprego ao namorado da neta, não é mesmo?

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Bruno Rogens

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